11 de março de 2012

Ao diário não oficial

Peço desculpas aos conhecidos pelas inglórias que acumulei nessas duas décadas, por não poderem se orgulhar da minha existência mesquinha e demente. Também pela colocação pronominal fora de ordem, pelas vírgulas rapidamente mal pontuadas... Mal pontuadas... Tais qual minha vida. Pelo riso repentino, pelos sonhos que se encontram n'uma nuvem acima de uma leguminosa, mas que não são de uma pata de ouro: o ar rarefeito longe dessa imundice de quem desdenha da poesia. Perdoem-me, sinceramente, por não poder ser a linha aprumada que precisamos diante do semáforo vermelho. Por vezes, pelo contrário, sou a infração, a multa, a adrenalina. A acetilcolina, a prolactina... Vocês acabaram comigo. Mas no fundo eu rio daquilo que têm tentando podar: o despropósito. Não sei como e minhas sentenças são embaralhadas de advérbios, conjunções e mais um monte disso tudo. - O que tu pensas? Não penso em nada e tenho o direito de fazê-lo. Na casa úmida ecoa um gargalhar antigo. Vocês me calaram, rasgaram meu livro, me julgaram e não mais chorei ao ler Bandeira, tampouco assisti do meio pro fim qualquer italiano apenas para lacrimejar e sentir-me viva. Fellini tem meus fantasmas guardados n'uma caixa e eles vão assombrá-los. Vocês não sentem e estou sendo embalsamada. Minhas ataduras colam meus braços e pernas e ando reto. Delineio um medo, furo-o com a ponta recém-feita. Também meu telefone há muito não retém as migalhas de um pensamento. Diante do joelho platinado ninguém mais se dobra e o mais absurdo é que minha apostila preta está empoeirada, amarela, distante da realidade cabralina que outrora era meu sentido. Abro-a e ele, no verso, brada com rispidez que vocês são os culpados: esses olhares de reprovação mataram o poeta sem pena, vocês são meus assassinos e eu peço desculpas por sujarem suas alvas mãos com meu sangue impuro de lirismo e poética.

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